CHÁ E EMPATIA COM DANIEL GOLEMAN
Em resumo, no kit executivo, mau comportamento e agressividade não são mais vistos como traços valiosos. Se alguém merece algum crédito por trazer a tona essa mudança na cultura corporativa é Daniel Goleman. Psicólogo de Harvard convertido em especialista em ciência do jornal The New York Times e autor de best-sellers, Goleman popularizou 0 conceito de "inteligência emocional" em meados dos anos 1990. Ele tem trabalhado com líderes corporativos desde então, para mostrar como um coração tranquilo e uma cabeça equilibrada podem levar a um desempenho melhor.
"Ser um 'cara durão' não é mais uma estratégia vencedora nas empresas", diz Goleman. "Funciona nos primeiros dias de uma startup ou quando as pessoas nao tem outra opcção. Mas mesmo nesses casos não funciona tão bem, e o motivo é neurológico. Agressividade nao é um estado físico bom para 0 desempenho. Como os estados emocionais são contagiosos e emanam do chefe para os demais, 0 comportamento que conduz as pessoas a um estado de medo ou raiva também as empurra para fora da região da melhor eficiência cognitiva. É possível conquistar algum tipo de sucesso narcísico sendo um intimidador ou um tirano, mas é como dar um tiro no pé."
Goleman defendeu essa posição inicialmente em seu best-seller Inteligência Emocional, publicado em 1995 [a edição em português e de 1996, ed. Objetiva], que imediatamente atraiu a cobertura da imprensa internacional. Vendeu mais de 5 milhões de exemplares em 33 línguas e 50 países. Provavelmente, foi seu subtítulo -no original, Por que Pode Ser Mais Importante do que 0 QI- que evocou a crença disseminada de que ser apenas "rato de livros" não garante riqueza, fama, autoridade, influência ou qualquer outra forma de sucesso profissional; as pessoas também precisam de controle emocional para chegar ao topo. A prosa elegante de Goleman ajudou a tornar sua obra popular, assim como a sensibilidade de tentar enfrentar muitos indivíduos na meia-idade implícita no livro: a de superar os próprios impulsos narcisistas e assumir 0 duplo desafio de criar famílias e administrar trabalhos exaustivos. Mais especificamente, e para surpresa inicial de Goleman (assim ele diz), Inteligência Emocional rapidamente conquistou um séquito de gestores e executivos. Qualquer um que tivesse de supervisionar um projeto complexo com uma equipe de membros de vários países sabia em primeira mão que, em momentos de crise, a inteligência pura não era nem de longe tão importante quanto a capacidade de ser equilibrado, livre de ansiedade, autoconsciente e empático. Em 2008, havia 27 livros disponíveis na Amazon.com com 0 termo "inteligência emocional" em seu título ou subtítulo, dos quais pelo menos 14 dirigidos diretamente a pessoas de negócios.
O proprio Goleman publicou os seguintes livros: Trabalhando com a Inteligência Emocional (ed: Objetiva), 0 Poder da Inteligência Emocional, em coautoria com Richard Boyatzis e Annie McKee, e Intêligencia Social (ambos, ed. Campus/Elsevier). Nos dois primeiros, aplicou seus conceitos ao local de trabalho; no terceiro, observou mais atentamente as formas pelas quais interações sociais -comunicação interpessoal, especialmente com quem se tem alguma conexão emocional- produzem respostas neurais automáticas no cérebro humano. Goleman comparou essas interações sociais aos termostatos que regulam não só as emoções, mas muitas outras coisas, incluindo suscetibilidades a doenças (por meio do sistema imunológico) e tipos de piadas de que as pessoas acham graça. Assim como com a inteligência emocional, habilidades individuais sociais são bem mais importantes para 0 sucesso do que muitas pessoas acreditam, e sofisticação social e influência podem ser medidas, testadas e ampliadas.
"Dan Goleman deu um nome para a inteligáncia social, codificou-a e mastigou os elementos de uma forma usavel", diz Suzy Welch, ex-editora da Harvard Business Review e coautora, com seu marido, Jack Welch, de Paixão por Vencer (ed. Campus/Elsevier). "Os melhores executivos de negócios sabem que ele está falando de um conceito fundamental."
A linha de pesquisa mais recente de Goleman, para um livro previsto para este ano, aborda a crise de responsabilidade que acredita estar sendo enfrentada pelas empresas. Ele argumenta que, conforme avança a pesquisa biomédica microscópica sobre 0 impacto dos fármacos sobre a saúde, os fabricantes são confrontados com crescentes níveis de escrutínio sobre os efeitos sobre a saúde, em longo prazo, da toxicidade dos produtos que vendem. Se isso estiver correto, simplesmente permanecer no negócio obrigam os líderes a reunir toda a inteligência emocional que puderem. Também exigirá deles um novo cálculo do risco: uma forma mais aprofundada de julgar 0 dano potencial de novos empreendimentos e disposição para mudar essas práticas rapidamente quando riscos ambientais, sociais ou de saúde aparecerem.
As preocupações de Goleman -transparência, aprendizado social e emocional, liderança e cultura no local de trabalho- aparecem todas regularmente no blog que ele começou em 2006 e que hoje atinge uma media de 750 hits por dia. Apesar de esses tópicos variarem de negócios a psicologia e educaçãao, 0 tema básico por trás de tudo é consciência. As pessoas podem mudar, não controlando ou suprimindo suas emoções, mas tornando-se conscientes delas. (Isso pode significar, por exemplo, perguntar-se regularmente: "0 que eu sinto, e o que os outros sentem, quando expresso raiva ou ansiedade?".) As empresas podem mudar estimulando a consciência do mundo em larga escala. E sua pesquisa atual sobre risco cai como uma luva; se ele estiver certo, corporações e organizações serão mais poderosas e bem-sucedidas apenas quando as pessoas que trabalham nelas puderem se tornar coletivamente mais sensíveis ao impacto de suas ações.
E, se ele estiver errado, ainda sera "0 cara" que apresentou ao mundo a expressão "sequestro de amígdala". Nada a ver com as amígdalas da garganta. Essas amígdalas são dois conjuntos de neurônios do tamanho de amêndoas, localizados no lobo frontal, que recebem sinais diretamente dos sentidos e podem inundar 0 corpo de hormônios. Goleman compara a amígdala a uma sentinela primitiva, "que telegrafa uma mensagem de crise para todas as partes do corpo" e detona uma repentina erupção de raiva ou medo da qual as pessoas mais tarde se arrependem. Quem entender a potência da amígdala e aprender a reconhecer 0 sentimento de um sequestro enquanto estiver acontecendo tem muito menos chance de ser levado de roldão por essas emoções e de explodir de raiva. A versão de Goleman da neurociência tende a ser popular precisamente porque ajuda as pessoas a aprender a modular suas emoções. É um passo natural, ou um passo além, que ele sugira às empresas, também, que se treinem para deixar para trás seus piores impulsos?
Como muitos outros habitués do circuito de palestras ao redor do mundo, Goleman é tanto um conferencista público exuberante como um indivíduo intensamente privado. Ele construiu seu lar com sua mulher, Tara Bennett-Goleman, em um local remoto, cercado de árvores, a leste de Massachusetts. É esbelto e elegante, ouvinte ávido e um papo divertido. Apesar de alguns acharem que seu trabalho promove a artificialidade, ao ensinar as pessoas a suprimir seus sentimentos genuínos, Goleman argumenta que as inteligências emocional e social não podem ser falsificadas. "Se você tenta conscientemente imitar 0 que seu corpo faz naturalmente, usa circuitos mais lentos e menos capacitados", diz ele. "É melhor confiar que seu cérebro sabe o que está fazendo do que manipular 0 processo. A chave é relaxar e prestar atenção, e deixar os circuitos fazerem seu trabalho."
o termo "inteligência emocional" está tão estabelecido na psicologia contemporânea que a abreviação IE já é amplamente utilizada. A idéia remonta pelo menos a Aristóteles, que desafiou a humanidade a administrar sua vida emocional com inteligência em Ética a Nicômano. Charles Darwin escreveu que as emoções abastecem os animais de sinais criticamente importantes a serem trocados entre si; quem não consegue expor ou ler emoções com precisão pode não sobreviver. Esse conceito também deve muito ao velho amigo e colega de classe de Harvard de Goleman, Howard Gardner, cuja teoria das múltiplas inteligências reconhece as inteligências "intrapessoal" (autoconhecimento) e "interpessoal" (capacidade de entender os outros) como habilidades diferentes.
QUADRO DA PÁGINA 88
STOCKTON, CA: A ODISSÉIA DE UM PARTICIPANTE-OBSERVADOR
O valor da inteligência social ficou evidente para Daniel Goleman logo no início da vida. Nascido em 1946, ele cresceu em um ambiente judaico e intelectual em Stockton, cidade agrícola do vale central da Califórnia, seus pais eram professores da University of the Pacific: a mãe, de Sociologia e o pai, de Humanidades ( um de seus alunos foi o músico de jazz Dave Brubeck, que mais tarde escreveu um oratório em sua homenagem).
Daniel cresceu se sentindo um “participante-observador” em sua cidade-natal . “Entre garotos que conhecia, eu era o único que tinha tantos livros em casa”, recorda. Mesmo assim, ele foi suficientemente popular no ensino médio para ser eleito presidente do corpo discente, posição que o ajudou a conseguir uma bolsa de estudos no Amherst College. Um fellowship da Fundação Ford o levou então a Harvard para a graduação em Psicologia. Nessa época, seu mentor, e por certo tempo senhorio, era Davis McClelland, autor de The Archive Society (ed. Van Nostrand) e talvez o primeiro a propor que o desempenho na carreira estava relacionado a um conjunto de habilidades e não somente à lógica e à análise. A casa grande de McClelland em Cambridge era conhecida pelas festas ruidosas que avançavam noite adentro, e foi nelas que Goleman conheceu alguns de seus melhores amigos.
Enquanto estava em Harvard, no final dos anos 60, Goleman começou a praticar meditação transcedental; ele passou um ano na Índia estudando com mestre budistas. Sua tese de doutorado foi sobre meditação, assim como seu primeiro livro, A Mente Meditativa (ed. Ática), Desde então, editou dois livros de conversas entre cientistas e o Dalai Lama. “Percebi que havia sistemas elaborados de psicologia, alguns deles milenares”, diz ele. “Queria chamar a atenção para tais sistemas orientais e apostei que seriam importantes na psicologia ocidental, porém era cedo”.
O corpo docente da áera de psicologia de Harvard não se impressionou, e Goleman conseguiu apenas uma vaga interina de baixo nível como professor. Frustrado, saiu para unirse à equipe da revista Psicology Today, onde seu trabalho conseguiu finalmente atrair a atenção do editor de ciência do The New York Times. Ele publicou no jornal mais de 500 artigos sobre psicologia entre 1984 e 1996, em geral com foco no local de trabalho. (Um dos primeiros, de 31 de Janeiro de 1984, tinha como título: Chefe é visto como melhor defesa contra o estresse.) Mas o Times, assim como Harvard, nunca lhe deu uma vaga na equipe, e, quando ele escreveu detalhadamente sobre inteligência emocional para a revista Time o publicou na capa e as vendas explodiram.
O sucesso desenfreado de Inteligência Emocional mudou a vida de todos os envolvidos, até das pessoas cujo trabalho Goleman citou brevemente. Howard Gardner era bem conhecido em círculos acadêmicos, mas estava muito pouco acostumando a responder a perguntas de apresentadores de talk shows. Peter Salovey e Jack Mayer descobriram que o repentino foco em seu trabalho havia trazido uma mistura de reconhecimento bemvindo e intrusão desconfortável. Como surgiu uma indústria caseira de coaches e consultores em inteligência emocional, os psicólogos pesquisadores que tinham cunhado o termo primeiro se viram no papel de responsáveis pela credibilidade deles.
“Métodos muito rudimentares de medir a inteligência emocial começaram a aparecer, obviamente imprecisos”, conta Salovey. “Quando vimos alguns desses (trabalhos menos substanciosos) começando a ser usados por cientistas, ficamos alarmardos. Então nos envolvemos profundamente no desenvolvimento de estudos psicométricos testados cientificamente para medir a IE.”Isso, por sua vez, levou à renovação do foco na capacidade de medir a inteligência emocional.
Goleman, enquanto isso, parou de colaborar no The New York Times para escrever e cofundar uma nova empresa de pesquisa: o Consortium for Research on Emotional Intelligence in Organizations (Creio). Gradualmente, ampliou seu interesse para cobrir conceitos mais abrangentes de inteligência emocional – primeiro em organizações e comunidades, e então na sociedade em geral. Ele está particularmente interessado em promover o desenvolvimento das crianças e influenciar escolas. Na reunião da Kennedy School, perguntaram-lhe por que as pessoas freqüentemente parecem perder a empatia e a compaixão quando atingem altos níveis de poder. Golemam respondeu que elas simplesmente nunca adquiriram a inteligência emocional excepcional de que os líderes de alto escalão precisam. “Eu desistiria de nosso bando atual de líderes e começaria com as crianças”., acrescentou. “A grande janela da oportunidade para esse conjunto de habilidades está nos primeiros 20 anos de vida”. Além do Creio, Goleman cofundou o Collaborative for Academic, Social, and Emotional Learning (Casel), para o aprendizado acadêmico, social e emocional, que desenvolve programas da pré-escola ao ensino médio. Em um projeto de meta-análise publicado recentemente, o Casel, sediado na University of Illinois, em Chicago, descobriu que pessoas jovens que participam de programas extracurriculares de “aprendizado social e emocional” (SEL) mostraram melhora significativa em freqüência e comportamento nas aulas. Alunos dos últimos anos do ensino médio tiveram um ganho de 15% nos resultados de testes-padrão depois dos cursos, o que representa um impulso maior do que os típicos serviços de coaching para provas existentes nos Estados Unidos.
“O SEL ajuda as crianças a controlar suas emoções de modo que estejam no estado interno ideal para o aprendizado”, diz Goleman. “É por isso que Singapura esta tornando o treinamento em SEL obrigatório. Singapura e realmente uma empresa disfarçada de pais – e eles vêem isso como uma melhoria de seu capital humano.” Goleman observa que programas de SEL também são oferecidos em Nova York e Illinois e que vários outros estados norte-americanos estão considerando implementá-los. Ele acrescenta com um sorriso que, como Timothy Shriver, diretor do Casel, e cunhado do governador Arnold Schwarzenegger, as chances de a Califórnia também tornar o treinamento em SEL obrigatório são grandes.
Um comentário:
Oiii lindinhaaaa!!!
um ótimo finzinho de semana pra vc!!! bjoooo
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